terça-feira, 8 de junho de 2010

Rua da JinX - Entre Mágoa e Ilusão - XXI

- Não estou a fazer nada. – Afirmou levantando as mãos na minha frente num gesto defensivo.

- Estás. Não me mintas. – Pedi sem qualquer tipo de incriminação. Para mim era acima de tudo extraordinário o que eles conseguiam fazer. A utilização que davam a essas habilidades era algo que não me atrevia a julgar sem saber os motivos que os levavam a ter certos comportamentos. – Há mais pessoas a fazer isso?

- Isso o quê? – Insistiu em me manter no papel de ignorante e sorriu dando largas ao auge do seu charme ilusório.

- Estás a fazer-me querer e sentir… coisas. A encher-me de desejos quando olhas assim para mim e não consigo pensar.

Resumindo poderia ser algo deste género. No entanto era bem mais do que as minhas palavras poderiam exprimir sem me fazer soar ridícula e despropositada, já que, conforme eu própria descrevera, era o que ele me estava a fazer sentir. Coisa que ele negara por duas vezes. Claro que me podia esforçar bastante mais para conseguir valer as minhas palavras se não estivesse a sustentar precisamente o que descrevia e ele não me estivesse a bombardear com aquele sorriso insuportável.

- Eu acho que tu estás a desprezar as tuas próprias ambições. – Acusou-me tornando o seu sorriso ligeiramente presunçoso, fingindo que acabava de comentar algo casual enquanto acomodava um machado maciço no coldre reforçado que trazia na cinta metálica da armadura. - Só estou a tentar com que te sintas bem. Não te estou a encher de desejos.

Senti-me corar até o meu rosto arder com a vergonha. Aquilo dito por outra pessoa que se fazia despercebida quanto ao que eu estava a sentir, provocado por ela ou não, era embaraçoso. Vi como o teor da conversa começava a irritar o estranho na minha frente e como este se levantou de imediato para me fustigar com o ar irado de quem não desejava estar ali para ouvir aquilo.

- Os vossos olhos são diferentes. – Interpelei-o na tentativa de impedir que se afastasse lançando a mão ao seu cotovelo. – Tu sabes fazer aquilo que ele está a fazer?

- Eu não aprecio nada do que ele possa ou esteja a fazer. – Libertou o braço da minha mão e continuou a andar até á mochila. Olhou para mim, depois olhou para o outro e meteu-a ás costas. – Nós somos diferentes, entendes? – Apontou para os dois com a mesma expressão enfadada de quem tinha de explicar sempre tudo de forma muito simples para que eu entendesse. - No meio desse desejo… - Revirou os olhos de modo teatral. - e burrice toda, espero que já tenhas percebido isso.

- Sê mais explícito. – Pedi acompanhando-lhe os passos furtivos em direcção á floresta como se as minhas passadas fossem desmesuradamente mais curtas que as dele. O estranho de olhos claros acompanhou-nos como uma sombra. – Eu não disse que vocês eram iguais. – Isso era tão desnecessário que dito seria uma profanação da minha tão desconsiderada inteligência – Vocês já se conheciam?

As duas cuspidelas, embora numa sincronia considerável para que não fosse considerada uma resposta, fez retinir o sino da minha impaciência. Sentia-me arremessada para o espaço que dividia aquela abominação, pelos vistos visceral, e a falta de informação sobre o que poderia ser tão conclusivo que se recusassem a facultar-ma estava a dar comigo em maluca.

- Vocês odeiam-se mas não se conhecem, é isso? – Continuei com a minha narrativa procurando uma reacção que não incluísse cuspidelas ou olhares inflamados. – São inimigos, porquê?

Ele parou de repente, segurou-me pelos ombros como se me fosse abanar de frustração e mergulhou os olhos manifestos pela intensidade de mil labaredas nos meus, vermelhos como duas brasas, obrigando-me a respirar como se não o fizesse havia muito tempo.


“ Neste mundo… Ou somos Nós, ou são Eles.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário